UMA SEGUNDA CHANCE 0.4 - O LIVRO D'ÁGUA
O LIVRO D'ÁGUA
2 - O lago de cristal
Na cidade de Pinhais Obasy, havia uma grandiosa mulher chamada Banyu, que ganhou reconhecimento no início da primeira guerra por ser uma ótima soldado do clã Heiwa. Nós, do clã Mizu, estávamos no poder de Duniya Shiru inteiro, então muitas cidades foram destruídas e os demais clãs ficaram prejudicados. Banyu, apesar de ser muito inteligente, confiou no inimigo. Ela engravidou de um soldado do clã Mizu, que lhe prometeu o mundo em meio à guerra, mas que sumiu, do dia para a noite, e, sem saber o que fazer, fugiu. Banyu se escondeu até que seu filho estivesse prestes a nascer e quando nasceu, a mulher chorou rios de tristeza. Banyu não suportava olhar o recém-nascido, também não conseguiria cuidar de uma criança naquela situação, então teve uma brilhante — ou não tão brilhante — ideia: ela colocou seu pequeno filho moreno e gordinho numa cesta de palha em um lago da cidade que estava em maior vantagem até então: a cidade de Pireo.
Antes de empurrar a pequena cesta pelas águas, nomeou-o de Nilo, o futuro grande walia do clã Mizu. Nilo cresceu em uma boa família, cujo pai era um guarda real e trabalhava para a realeza tirana. Após dois anos, eu nasci. Nilo e eu crescemos juntos, alheios ao mundo exterior, às mortes inocentes e à tristeza extrema do meu povo, brincávamos de espada no salão principal, éramos melhores amigos e tudo estava bem, até que crescemos e, enquanto Nilo se alistou como soldado, eu era treinada para me casar e ser uma boa esposa.
Daquele dia em diante, eu descobri gradativamente a intensidade real da guerra por meio das cartas que Nilo me enviou secretamente. Após um ano de sua partida, ele veio sorrateiro pela madrugada, escondido na escuridão para me encontrar, e eu o esperava ansiosamente e quando ele chegou, tão diferente desde a última vez, não me segurei de emoção. Mas toda a alegria foi-se embora quando ele começou a falar sobre seus dias naquele inferno. Eu sabia da gravidade, mas não podia acreditar, me recusava a acreditar, então ele me levou até o caos, que não estava tão longe como eu pensava. As casas estavam destruídas, meu próprio povo estava morrendo aos montes, pessoas pobres e doentes. Famílias dos soldados que não voltaram e se encontravam perdidas em meio à sujeira e à fome.
Nilo não me mostrou nem um por cento dos estragos, e mesmo assim eu me revoltei. Voltamos ao castelo antes que o sol chegasse e Nilo me prometeu que daríamos um jeito na situação e então, toda noite eu saía de meu quarto para treinar e estudar a situação. Me encontrei com ele diversas vezes, muitas delas eu mesma andava a cavalo até seu encontro, juntando mais e mais soldados para a rebelião. Deixei de ser Dewi, a princesa, e comecei a me tornar Dewi Udan, uma pessoa.
O plano estava prestes a ser colocado em prática e eu era uma peça super importante para a operação, mas quanto mais tempo demorava, menos soldados voltavam vivos. Na noite anterior, eu e Nilo tivemos uma conversa:
— Amanhã, nesse mesmo horário, estaremos festejando sobre uma cidade livre, Dewi. — dizia ele, sorridente com seus cabelos pretos caindo no rosto moreno e vermelho do calor.
— Quando acabar — eu disse — vamos nos casar.
Nilo concordou prontamente, era uma promessa. Seríamos felizes, em um mundo sem guerras e sem dor, pelo menos era o que eu acreditava. Mas ele não veio, nenhum deles apareceu. Esperei e esperei ansiosa na calada da noite, mas sem sinal de nenhum deles.
* O livro d'água vai ser apresentado aos poucos em diversas situações; são capítulos curtos que vão contando as histórias importantes do universo. Em geral, será sempre em capítulos, mas será escrito também como leitura e subcapítulo.
* Relembrando: antigamente o nome da cidade era "Pireo", mas após a ascensão de Dewi, passou a ser uma nova cidade com o atual nome de "Oky Táva".
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